sábado, 31 de janeiro de 2015

PMEs e Angola - É importante perceber o mercado no momento em que descem os preços petrolíferos

O crescimento económico em Angola, que se tinha previsto de 8,8% em 2014, foi revisto
mais tarde para 4,6%, devido ao andamento da produção de petróleo na primeira parte do ano. No final de 2014 previa-se o crescimento de 5,5% para 2015, mesmo assim muito inferior à ambiciosa previsão inicial de 8,8%. Este crescimento, de capital intensivo e dependente das importações, tem fortes ligações a áreas dominadas pelo sector estatal, nomeadamente a construção e o sector financeiro. O sector não petrolífero, como transportes, indústria ligeira, comércio e serviços, terá rápida expansão, mas a falta de reformas e a sobre-valorizada taxa de câmbio darão um mau clima de negócios, restringindo o investimento fora dos sectores petrolífero e da construção.

Apesar dos esforços do governo angolano para estimular as pequenas e médias empresas, bem como os serviços, exemplo do turismo (que pode levar à criação do emprego), e ainda esforços para desenvolver um sector privado dinâmico, esses esforços enfrentam obstáculos como seja um fraco capital humano, deficiente regulação, insuficiente fornecimento de energia, elevados níveis de corrupção e ainda a redução (crowding-out) do investimento privado através das medidas do sector público.

O Banco Nacional de Angola (banco central) fez cortes nas taxas de juro por três vezes desde há ano e meio, em cem pontos-base, o que se reflectiu na tendência inflaccionária positiva e numa redução das preocupações em relação ao impacto da legislação sobre o petróleo na liquidez do sistema monetário. A manutenção da inflação a um só dígito continua a ser um objectivo essencial do banco central.


O desempenho do sector petrolífero deverá continuar a ter um impacto substancial no equilíbrio orçamental nos próximos quatro anos. Os analistas estavam optimistas em relação aos preços de petróleo em 2014 e esperavam um declínio de apenas 0,5%, contra a anterior previsão de -1,3%, mas também esperavam uma queda anual de 3,7% nos próximos quatro anos. Todavia, admitiam que isto podia em parte ser ultrapassado pelo aumento da produção de petróleo e gás.


Entrando na actualidade, a presente descida dos preços do petróleo pode trazer dificuldades às empresas portuguesas que têm uma forte presença em Angola. Podem surgir atrasos nos pagamentos, quebra de importações por redução do consumo no mercado interno angolano e preferência por outros fornecedores alternativos a Portugal, com produtos de menor qualidade mas de preços mais baixos (a China por exemplo está bem posicionada).

Importa ainda referir que até agora o contexto económico tem sido acompanhado pela estabilidade política. Aliás, previa-se, entes da queda dos preços, que essa estabilidade se mantivesse, pelo menos até 2016, embora o Presidente José Eduardo dos Santos (no poder desde 1979) tenha possibilidade, pela Constituição de 2010, de permanecer até 2022. No entanto, especula-se em Angola (segundo The Economist Intelligence Unit) que o Presidente queira decidir sair antes dessa data, pelo que também se especula sobre o iniciar ou não de uma discussão quanto à sua sucessão. Naturalmente, também existem preocupações no sentido em que uma saída repentina do Presidente possa conduzir à instabilidade, por um possível vácuo poder. É claro que a quebra dos preços petrolíferos irá reduzir os rendimentos em Angola, e isto poderá contribuir para uma certa instabilidade política.

Aproveitar a estabilidade política em Angola foi sempre importante para as empresas portuguesas na sua introdução no mercado, seja através do investimento no país, seja pela via das exportações. Neste momento, torna-se mais importante perceber o mercado, ou seja, ver até que ponto a influência da conjuntura dos preços do petróleo pode interferir e como nas decisões dos operadores económicos.

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